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Imagem: reprodução/ Pexels |
E só quando acontecem algumas situações, algumas ruins, outras terríveis, é que percebemos o óbvio. Não somos donos do tempo. Desperdiçamos muitas energias e muitos momentos que poderiam ser vividos hoje planejando um futuro que nem sabe se terá.
Pense na sua vida. Pense em quantos planos já fez, em tudo o que sonhou, nos sonhos que realizou. Agora veja quantos deles era o que realmente esperava. Lembro que quando criança eu chegava da escola e ia correndo pegar meu almoço para assistir X-Men na TV.
Eu queria mais que tudo poder estudar na parte da tarde, porque teria a manhã livre para os desenhos que só via nas férias. Eu idealizava tanto o estudo em período vespertino... Até que mudei de cidade, e na escola nova a quarta série só tinha aulas à tarde. Foi uma felicidade momentânea. Eu teria a manhã livre...
Mas aí percebi que precisaria acordar cedo de qualquer forma para ir no inglês e na natação. Que precisaria usar as manhãs para a lição de casa, e que se dormisse demais nem veria desenhos, nem estudaria e ainda teria perdido o meu dia inteiro. Percebi que a manhã passava mais rápido e que morando no Maranhão era desumano assistir aulas à tarde com aquele calor e com uma sala lotada de alunos, tendo apenas 2 ventiladores "mequetrefes" para atender a demanda. E eu odiava a bermuda do uniforme. Estudar a tarde não era tão legal assim...
Hoje adiamos nossa vida para depois do vestibular, depois do cursinho, depois da faculdade. E a verdade é que o mundo nos obriga a fazer coisas que deveriam ser prazerosas, como aprender. O que deveria ser natural e gostoso, passa a ser torturante e a valer notas. E você perde sua personalidade e passa a ser um número. Passa a ser um 8, um 5, um 2. Mas você estuda mesmo assim porque sabe que precisa garantir o seu futuro distante. E se resolver não estudar vai ter que trabalhar mais ainda para garantir o futuro daqui a um mês. E assim vamos nos privando da vida e esquecendo que o tempo é líquido, como diz Zigmund Baumann. E sendo ele líquido, é volátil, nos escapa com facilidade e quando abrimos os olhos já se passaram duas décadas e você não precisa mais rebobinar fitas para devolver à videolocadora.
Harlan Coben, em praticamente todos os livros da série Myron Bolitar, gosta de citar um ditado íidiche, cuja genialidade repousa em sua extrema simplicidade. " O homem planeja e Deus ri", é o que ele diz. E com isso voltamos lá ao começo deste texto meio sem nexo, meio com tom de desabafo. Planejamos sim. Mas quem garante que dará certo? Quem garante que será como o esperado? Quem garante que estaremos vivos amanhã? Ou se teremos saúde para realizar a viagem para a qual estamos juntando dinheiro com expectativas de realizá-la em x anos? Ou se simplesmente ainda iremos querer cumprir o que planejamos?
Porque nós mudamos o tempo todo, nossa vida muda, e consequentemente nossos planos mudam. E a vida segue em seus altos e baixos, passando de mãos dadas com o tempo enquanto você está aí, olhando para dentro de si e aflito com um futuro que nem sabe se viverá.
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